domingo, 25 de abril de 2010

Um chamado para a angústia - David Wilkerson

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"Não é fácil para eu dar uma mensagem como esta. Tenho reclamado ao Senhor, dizendo: "Será que não poderias me dar uma mensagem mais agradável?". No entanto ele me deu um chamado à angústia. Pode não ser para todos os leitores, mas Deus tem falado comigo, e preciso compartilhar com quem puder ouvir.

Não sei quanto a você, mas eu estou cansado de ouvir sobre avivamentos, despertamentos, derramamentos do Espírito para os últimos dias. Já ouvi essa retórica por 50 anos. É apenas retórica, na maioria das vezes, sem qualquer significado real. Estou cansado de ouvir pessoas dizerem na igreja que querem ver seus familiares convertidos. Estou cansado de ouvi,..Jas dizer que estão preocupadas com seu ca¬samento problemático, quando é apenas conversa, retórica vazia.

Não quero mais ouvir sobre imoralida¬de no nosso pais, sobre a depravação da sociedade, sobre corrupção e desonesti¬dade nos negócios. Estou cansado de ou¬vir sobre os muçulmanos que estão cada vez mais fortes, sobre o enfraquecimento do cristianismo, sobre a falta de vida na Igreja. Tudo isso também não passa de retórica vazia, nunca muda nada.

Estou cansado também de tantas conferências sobre "Como obter suces¬so", porque não produzem nada. aComo enfrentar dificuldades", "Como levar sua igreja a crescer", "Como alcançar os per¬didos", "Como melhorar sua habilidade para lidar com pessoas", "Como impactar o mundo nesta era de informática". Quan¬do olho para o cenário religioso de hoje, o que vejo são invenções e ministérios do homem, da carne. Na maior parte, não há poder, não há impacto sobre o mundo.

Sem a Presença de Deus - e Sem Angústia

Vejo o mundo entrando cada vez mais na igreja, impactando a igreja ao invés de ser impactado por ela. Vejo a música tomando conta da casa de Deus, o entretenimento tomando conta da casa de Deus, uma verdadeira obsessão com apresentações e entretenimento. Há uma aversão à repreensão, à disciplina; nin¬guém quer ouvir nada negativo.

Quantas vezes, nos últimos tempos, você participou de um culto em que a presença do Espírito Santo foi tão forte

e seus pecados foram expostos ao seu coração, e você pôde ter um encontro com o amor e a graça de Deus? Quando foi a última vez em que viu jovens caindo de rosto em terra, clamando por misericórdia, porque o povo de Deus esteve prostrado antes na presença dele com tamanho encargo e agonía que um espírito de convícção foi enviado do céu sobre eles? Quantas vezes, nos últimos meses, você ouviu uma palavra de pregação que ardeu tão forte em sua alma que só podia ter vin¬do direto do céu, do coração de Deus?

O que foi que aconteceu com a an¬gústia na casa de Deus? O que aconteceu com angústia no ministério? Nem sequer se pronuncia essa palavra na nossa era amimada. Angústia significa extrema dor e aflição, as emoções aguçadas de tal forma, em virtude das condições interiores ou daquelas à sua volta, que o sofrimento se torna profundo, agudo, intenso. Angús¬tia é profunda dor, tristeza, a agonia do

ração de Deus.

Conseguimos manter nossa retórica religiosa e nosso vocabulário de aviva¬mento apesar de nos termos tornado ex¬tremamente passivos. O que chamamos de despertamento ou avivamento pessoal tem tido duração muito curta. Quando somos tocados pela mão de Deus, prometemos¬lhe que não voltaremos mais à passividade; entretanto, passadas algumas semanas ou meses, já nos esfriamos e caímos numa passividade maior ainda que no início.

Falo por experíência. Dizemos: "Desta vez, ó Deus, tu me tocaste e me mudas¬te por toda a vida; nunca mais serei o mesmo". É como a explosão de fogos de artifício. Produzem um grande estrondo e depois desaparecem.

A Situação de Ruína

Toda verdadeira paixão nasce da an¬gústia. Toda verdadeira paixão por Jesus nasce de um batismo de angústia. Se examinar as Escrituras, verá que quando Deus decidia restaurar uma situação arruinada, ele procurava um homem que orava e o levava às águas de angústia. Ele dividia com esse homem sua própria angústia por causa do que estava acon¬tecendo com seu povo. Ele o levava a um verdadeiro batismo de angústia.

Foi o que aconteceu no livro de Neemias. Jerusalém estava em ruínas. O centro do interesse de Deus na Terra, a cidade santa agora estava devastada, cheia de iniqüidade e de casamentos mistos entre o povo de Deus e pessoas pa¬gãs. Estavam escravizando seus próprios compatriotas, oprimindo os pobres. A casa de Deus estava Poluída com imundícia, o sumo sacerdote em conluio com Tobias, o réprobo pagão. Como Deus iria tratar essa situação? Como restauraria as ruínas?

Estamos diante de uma situação semelhante hoje - só que muito pior. Os homens estão ficando cada vez mais per¬versos, assim como Jesus predisse que aconteceria. A Igreja está contaminada com pedofilia, molestamento de crianças, incesto e adultério. As nações "cristãs" do Ocidente estão em acelerado declínio moral, inundadas com imundícia porno¬gráfica que causa vergonha ao restante do mundo. A ruína e o caos moral estão atin¬gindo a casa de Deus também. Multidões de cristãos em toda parte se reúnem para falar do próximo capítulo da novela ou do seriado que domina sua atenção e que, muitas vezes, exibe violência, promiscui¬dade, desonestidade e mentiras. Eles vão para os cultos, levantam as mãos, cantam, aplaudem, são abençoados - e voltam para casa para continuar enchendo os olhos com toda essa sujeira!

Agora, não me entenda mal: eu creio no amor de Deus. Prego sempre sobre a misericQrdia e a graça de Deus, sobre o seu amor de aliança. Creio que é importante falar sobre a bondade e a longanimidade de Jesus. Multidões de pessoas, porém, estão sendo bombardeadas hoje com mensagens de auto-ajuda. As pessoas estão transformando a graça de Deus em sensualidade, em cobiça carnal. Tornamo¬nos como os filhos de Israel, que diziam as palavras certas, mas cujo coração não estava reto com Deus (veja Dt 5.28,29).

Por Que Neemias?

Em Neemias 1.1-4, uma delegação chegou a Neemias da cidade arruinada de Jerusalém e contou-lhe como a cidade es¬tava devastada e como os muros estavam caídos. Eram homens, sem dúvida, te¬mentes a Deus, contudo não tinham idéia alguma de como Deus poderia resolver a situação ou trazer uma restauração. Só souberam relatar a ruína, a decadência, o desespero e a de•sesperança.

Qual foi a resposta de Neemias? 'Ten¬do eu ouvido estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus" (Ne 1.4). Deus achou um ho¬mem de oração e o fez descer às águas da angústia.

"Estejam, pois, atentos os teus ouvidos [. .. ] à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, que temos cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado" (Ne 1.6).

Neemias não era um pregador; era um homem de carreira secular, o copeiro do rei. Ele tinha uma vida de conforto, trabalhando no palácio. Podemos dizer que estava com a vida feita. Porém era um homem de oração. Deus achou um homem que não teria um mero súbito de emoção, um grande surto de interesse e preocupação que logo se dissiparia. Neemias chorou, lamentou, pôs-se a jejuar e orar noite e dia.

Um dos homens que fazia parte da delegação chamava-se Hanani. Sabemos que era um homem temente a Deus porque posteriormente foi nomeado como um dos governantes da cidade (Ne 7.2). Por que ele ou um dos outros não tinha uma solu¬ção para a situação? Por que Deus não os usou para restaurar a cidade? Porque não houve nenhum sinal de angústia! Não havia lágrimas, nenhuma palavra de oração.

Tem alguma importância para você o fato de que a Jerusalém de Deus atual, a Igreja, está em aliança com o mundo? Que há tanta frieza por toda parte? Multidões de pessoas estão caindo em passividade total. Preferem ir a igrejas onde podem ou¬vir mensagens suaves; não querem mais ouvir falar de ira ou repreensão. A ruína em que estamos - isso lhe importa?

Ou, chegando mais perto da sua vida pessoal, você se importa com a condição da Jerusalém de dentro, do coração? Tem percebido os sinais de ruínas que lentamente drenam sua paixão e poder espiritual? Ou está cego à mornidão, cego à mistura que vai se infiltrando impercep¬tivelmente? A cegueira espiritual, quando chega, raramente é notada. Geralmente é a última coisa a ser reconhecida por um filho de Deus que está em processo de decadência.

Como você reagiria se seu pastor ou alguém que o acompanha, conhece bem e se preocupa com sua vida chegasse e lhe dissesse: "Eu o amo, mas preciso dizer lhe a verdade. Você está mudando, está

caindo de onde estava antes. Há algum elemento do mundo que está invadindo seu coração. Não sei o que o está influen¬ciando, mas vejo mudanças em sua vida. Não há mais aquele quebrantamento, a compaixão que antes tinha por sua família. Não vejo preocupação pelos seus fami¬liares que não conhecem a Jesus. Você está mudando; pouco a pouco, algo está lhe acontecendo".

Será que você cairia de joelhos se a ruína que nem havia percebido de repente fosse revelada diante dos seus olhos? Apesar dos louvores maravilhosos e cultos abençoados, muitos estão mudando para o pior e nem se aperceberam disso. Estamos perdendo nossa garra. É a estratégia do ini¬migo - tirar sua garra para lutar em oração e chorar diante de Deus. Você fica acomo¬dado, assistindo à televisão, enquanto sua família caminha para o inferno!

Será que você realmente se importa que os seus familiares ou amigos estejam caminhando para o inferno enquanto nos aproximamos cada vez mais do fim de tudo? Você se preocupa com a possibilida¬de de se perderem pessoas tão próximas a alguém que ama a Jesus? Onde está a angústia, onde estão as lágrimas? Onde está a lamentação, onde está o jejum? Onde estão as pessoas que se levantam no meio da noite para expressar sua an¬gústia em oração? Onde está a confissão de pecados, pecados próprios e pecados dos filhos ou do cônjuge diante do Se¬nhor? Foi exatamente isto que Neemias fez (Ne 1.6). Foi também o que Daniel fez (veja Dn 9.5-14)."

Originalmente publicado no jornal “Arauto da Sua Vinda” de março/abril de 2008


Fonte: Trincheira espiritual

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